Dá para falar muito bem sobre vários aspectos do conceito do Chromebook, o notebook com sistema Chrome OS, do Google. Dá para dizer que está à frente do seu tempo, ou que seu conceito é completamente diferente do que existe atualmente. Ou que, pelo menos para um fracasso, pelo menos esse sonhou alto.
No ano passado, o Google enviou para blogueiros e jornalistas alguns notebooks CR-48, um protótipo com sistema Chrome OS. A esperança da empresa era que fabricantes de notebooks se animassem e passassem a apostar no sistema. Na semana passada, os primeiros modelos chegaram aos Estados Unidos. Entre eles está o Samsung Series 5 (US$ 500 com 3G, US$ 430 apenas com Wi-FI). Nota do editor: não há previsão de lançamento de notebooks com Chrome OS no Brasil.
Getty Images |
Chromebook da Samsung: um dos primeiros com sistema do Google |
Chromebooks dependem totalmente da internet
E então, como é esse conceito de Chromebook? Princípio 1: hoje em dia é fácil ficar online em quase todo lugar. Princípio 2: os serviços online do Google podem fazer quase tudo que programas convencionais podem, incluindo e-mail (Gmail), navegação (Chrome), chat (Google Talk), fotos (Picasa), processador de texto, planilhas, apresentações (Google Docs) e por aí vai.
Conclusão: um notebook não precisa de HD. Não precisa de programas. Não precisa de Windows ou Mas OS X. Não precisa de uma área de trabalho, pastas ou arquivos. O usuário precisa apenas ficar online, então o notebook precisa apenas de um navegador.
É uma ideia interessante. Sem HD? Isso permite criar um notebook sem partes móveis e com longa duração de bateria (cerca de oito horas). O Chromebook da Samsung tem apenas um drive SSD de 16 GB (basicamente um chip de memória, como no iPad ou no iPhone).
Sem Windows? Isso significa o fim das preocupações com vírus e spyware. Sem números de série. Sem pagamentos para a Microsoft por upgrades. Sem inicialização de dois minutos (um Chromebook faz o boot em menos de dez segundos).
Sem arquivos no HD? Isso diminui as preocupações do usuário caso o notebook seja perdido ou roubado. Também não há preocupações com backup. Basta logar a partir de outro chromebook e todos os seus software e serviços estarão lá.
Chromebook da Samsung tem design elegante
O notebook criado pela Samsung é muito bonito, e tem um design minimalista que lembra o Macbook. O teclado também é de primeira. A simplicidade do notebook é um de seus atrativos. É como um iPad com teclado (e sem tela sensível ao toque).
Getty Images |
Chromebook da Samsung aposta na simplicidade |
A parceria entre Samsung e Google, pode, de fato, ter ido longe demais na simplicidade do notebook. Em vez das teclas de função no topo do teclado, o S5 traz teclas para controle de volume, brilho da tela e navegação. Não há teclas de Print Screen, por exemplo.
Na verdade, não há nem tecla de Caps Lock. É muito bom que o Google queira eliminar teclas que acha que não são úteis, mas, peraí, Caps Lock? Quais serão as próximas? Colchetes? Ponto-e-vírgula? Q, Z e X?
É possível configurar a tecla de busca para funcionar como Caps Lock, mas essa opção fica muito escondida na área de configuração do notebook e não é documentada.
O notebook tem duas portas USB, uma webcam, uma saída de vídeo, uma entrada para cartões de memória e portas para microfone e fones de ouvido. Mas não tem Bluetooth, porta Ethernet, Firewire ou drive de DVD.
É muito estranho usar um computador em que tudo acontece no navegador. Se você conecta um pen drive, o conteúdo aparece em uma janela do browser. Não dá pra fechar ou minimizar o navegador, não há um desktop por trás.
No mundo real, Chrome OS deixa a desejar
Mas vamos dar uma chance a esse novo conceito. Como esse novo paradigma de notebooks criado pelo Google se sai no mundo real?
Infelizmente, não muito bem.
O primeiro princípio é que você está sempre online. Isso é importante, pois um chromebook é praticamente inútil quando offline. Não dá pra ver e-mail, ler documentos, livros ou ouvir música. Na prática, um chromebook offline é um tijolo de 1,1 quilo.
O Google afirma que uma atualização permitirá pelo menos acessar e-mail, agenda e documentos do Google Docs em modo offline e, com o tempo, mais aplicativos também suportarão essa função.
Getty Images |
Chromebooks dependem totalmente da internet |
Talvez no Vale do Silício, onde moram os engenheiros do Google, você possa ficar online o tempo todo. Mas no mundo real só dá para usar o chromebook onde você possa achar uma conexão e pagar por ela, ou por meio de uma conexão 3G.
Tentei muito usar o S5 como meu computador principal, mas no fim da primeira semana quase joguei o notebook fora, como se fosse um frisbee.
Peguei quatro voos com ele. Em todos os aeroportos tive que pagar US$ 7 para usar o Wi-Fi. Três dos quatro voos não tinham Wi-Fi, e o chromebook foi inútil. No quarto vôo, o Wi-Fi custava US$ 13. Isso mesmo, US$ 13 só para conseguir ver seus documentos e fotos. Mais US$ 17 pelo Wi-Fi instável do hotel.
Serviços do Google apenas quebram galho
E quanto ao segundo princípio, de que os serviços do Google substituem os programas convencionais?
Os serviços do Google quebram o galho em tarefas básicas (não dá para usar um chromebook sem uma conta do Google). Mas e se você quiser rodar software de verdade, como Photoshop, Skype, World of Warcraft, Access? E os programas específicos que sua empresa pode exigir?
A loja de aplicativos do Chrome oferece mil programas. A maior parte é de graça. Mas a maioria dos programas também é bem simples, como aplicativos para consultar a previsão do tempo, resultados de jogos etc. Nesses casos tudo acontece online, então basicamente você está instalando um bookmark.
Segurança da nuvem em questão
Há outro problema, mais preocupante: não é meio estranho que suas fotos não estejam em um computador que você possa acessar? Se a internet cair, você não consegue acessar nenhuma das fotos.
Além disso, o Google diz que o Chrome OS é extremamente seguro. Mas atualmente há ataques de hackers a corporações praticamente toda semana, muitos deles com roubo de informações pesssoais. Empresas como Sony, Citibank, Best Buy e outras já foram alvo desses ataques.
Você realmente quer deixar a única cópia de seus arquivos mais particulares na nuvem?
Chromebooks são caros e limitados
Na verdade, considerando todas as limitações, não dá pra entender por que o notebook da Samsung é tão grande, pesado e caro. Há muitos notebooks com Windows pelo mesmo preço e do mesmo tamanho.
O conceito do chromebook poderia funcionar se os notebooks custassem US$ 180 em vez de US$ 500. Talvez faça mais sentido se eles forem alugados (estudantes e empresas podem alugar chromebooks por cerca de US$ 30 mensais). Talvez o conceito vingue no dia em que houver redes 4G de graça no país inteiro, ou seja, nunca.
Por enquanto, só dá para parabenizar o Google pela experiência audaciosa. Dá para ter um gostinho das possibilidades da internet sempre online do futuro. É legal também perceber que alguém está tentando dar uma sacudida no mercado de sistemas operacionais.
Mas a não ser que você seja muito curioso e tenha dinheiro pra jogar fora, provavelmente não deve comprar um chromebook.
0 comentários:
Postar um comentário